Temas e Artigos em Filosofia

 


As limitações do comunismo

John Stuart Mill
Tradução de Rodrigo Jungmann

Um correspondente do seu jornal da semana passada, ao escrever em defesa do que ele chama de “visões associativas”, querendo dizer com isso, suponho, a organização da indústria com base no princípio comunista, ocupa-se do combate contra pessoas que, diz ele, criticam o comunismo porque “a harmonia e a competência que dele provavelmente resultariam” serão supostamente “tão extremas que se tem pavor de um excesso de satisfação”.

Guia prático de argumentação

Anthony Weston
Tradução de Desidério Murcho

Há quem pense que argumentar é apenas expor os seus preconceitos de outra maneira. É por isso que se pensa também que os argumentos são desagradáveis e inúteis. Argumentar pode confundir-se com discutir.

Francis Bacon

Robert E. Butts
Tradução de Desidério Murcho

Francis Bacon (1561–1626) foi um filósofo, ensaísta e metodólogo inglês. Na política, ascendeu à posição de Lorde Chanceler. Em 1621 afastou-se da vida pública, depois de ser condenado por aceitar subornos no exercício das suas funções oficiais como juiz.

Alasdair MacIntyre

Gary Gutting
Tradução de Desidério Murcho

Alasdair MacIntyre (1929–2025) foi um filósofo anglo-americano, e um eminente representante contemporâneo da ética aristotélica. Nasceu na Escócia, formou-se na Inglaterra e deu aulas em universidades tanto inglesas como (sobretudo) norte-americanas.

Ciência e objectividade

Thomas Nagel
Tradução de Desidério Murcho

A razão não se reduz à lógica e à matemática. O subjectivismo com respeito à lógica derrota-se a si mesmo directamente. O subjectivismo no que respeita a outros tipos de raciocínio só pode ser refutado mostrando que entra em competição directa com afirmações internas a esse raciocínio e que, num debate justo, perde.

Filosofia e o progresso do conhecimento

John Searle
Tradução de Daniela Moura Soares

Vou falar acerca da situação actual em filosofia e, em relação a isso, acerca do meu próprio desenvolvimento como filósofo. Já fazia filosofia há décadas, literalmente, antes de se tornar para mim visível como o meu próprio trabalho se situava na actividade da filosofia e na vida intelectual em geral.

Filosofia da ciência

Philip Kitcher
Tradução de Desidério Murcho

A filosofia da ciência é o estudo, do ponto de vista filosófico, dos elementos da investigação científica. Este artigo discute questões metafísicas, epistemológicas e éticas relacionadas com a prática e os objectivos da ciência moderna.

A revolução copernicana na astronomia

Brad K. Wray
Tradução de L. H. Marques Segundo

Muitas das questões e considerações presentes no debate contemporâneo entre realismo e antirrealismo na filosofia da ciência podem ser apropriadamente ilustradas através de exemplos da história da astronomia. Ofereço aqui uma apresentação resumida da revolução copernicana.

Anaximandro

Richard McKirahan
Tradução de Desidério Murcho

O filósofo grego Anaximandro de Mileto seguiu os interesses filosóficos e científicos de Tales. Escreveu um livro, do qual nos chegou um fragmento, e é o primeiro filósofo pré-socrático acerca de quem temos suficiente informação para conseguirmos reconstruir as suas teorias detalhadamente.

8 de MarÉtica

Guia de estudo: A libertação animal de Peter Singer

“Todos os animais são iguais”
Richard Yetter Chappell e Darius Meissner
Tradução de José Oliveira

O influente livro de Peter Singer, Libertação Animal, de 1975 — actualizado e publicado novamente em 2023 com o título Libertação Animal, Hoje — constitui a pedra de toque filosófica do movimento moderno pelos direitos dos animais.

Uma confutação do realismo convergente

Larry Laudan
Tradução de L. H. Marques Segundo

Este ensaio explora parcialmente alguns conceitos centrais associados à epistemologia das filosofias realistas da ciência. Mostra que nem a referência nem a verdade aproximada farão o trabalho explicativo que os realistas esperam delas.

Labirintos do Círculo

Nelson Gonçalves Gomes
The Murder of Professor Schlick: The Rise and Fall of the Vienna Circle
de David Edmonds
Princeton e Oxford: Princeton University Press, 2020, 313 pp.

David Edmonds (n. 1964) é um eticista britânico, doutor em filosofia pela Open University. É colaborador do Oxford Uehiro Centre for Practical Ethics e coautor (com John Eidinow) de Wittgenstein’s Poker, obra já traduzida no Brasil (“O Atiçador de Wittgenstein”).

O bem-estar das outras espécies

Cátia Faria
Tradução de José Oliveira
Capacity for Welfare Across Species
de Tatjana Višak
Oxford: Oxford University Press, 2022, 160 pp.

É frequente fazer comparações implícitas entre espécies no que respeita ao bem-estar. Os seres humanos matam todos os anos milhares de milhões de animais não-humanos para produzir alimentos. Inúmeros outros animais são negligenciados durante catástrofes naturais, como surtos de doenças, incêndios florestais, inundações e furacões. Estas decisões reflectem um sentido enraizado de bem-estar comparativo, implicando uma hierarquia de bem-estar entre as espécies.

Activismo ético

Peter Singer e Martin Skladany
Tradução de José Oliveira

Quando avaliamos os protestos nas sociedades democráticas, a não-violência não é o único critério que deve ser ponderado. O princípio da proporcionalidade pode servir como um guia útil para os factores que os manifestantes devem considerar, permitindo-nos defender o direito de protestar e, ao mesmo tempo, especificar as responsabilidades éticas dos manifestantes.

Existência

Michael Nelson
Tradução de Daniela Moura Soares

A existência levanta problemas complexos e importantes na metafísica, filosofia da linguagem, e lógica filosófica. Muitos destes problemas podem ser organizados em torno das seguintes duas questões: É a existência uma propriedade de indivíduos? pressupondo que a existência é uma propriedade de indivíduos, há indivíduos que carecem dessa propriedade?

Histórias de animais metafísicos

José Costa Júnior
The Women Are Up to Something: How Elizabeth Anscombe, Philippa Foot, Mary Midgley, and Iris Murdoch Revolutionized Ethics
de Benjamin J. B. Lipscomb
Oxford: Oxford University Press, 2021, 360 pp.

Metaphysical Animals: How Four Women Brought Philosophy Back to Life
de Clare Mac Cumhaill e Rachael Wiseman
Nova Iorque: Anchor Books, 2022, 416 pp.

As filósofas britânicas Elizabeth Anscombe, Philippa Foot, Mary Midgley e Iris Murdoch nasceram entre os anos de 1919 e 1920 e chegaram à Universidade de Oxford entre os anos de 1937 e 1939. Lá encontraram um ambiente dominado por homens, com visões discutíveis em relação à natureza da filosofia e seu alcance na vida comum.

Alvin Goldman

John R. Shook
Tradução de Desidério Murcho

Alvin Ira Goldman nasceu na cidade de Nova Iorque, no dia 1 de Outubro de 1938, e morreu no dia 4 de Agosto de 2024. Concluiu a licenciatura na Universidade da Colúmbia em 1960. Concluiu depois as suas qualificações de pós-graduação na Universidade de Princeton: o mestrado em 1962, e o doutoramento em filosofia em 1965.

Jerome Stolnitz

Ronald Moore
Tradução de Desidério Murcho

Jerome Stolnitz nasceu no dia 11 de Junho de 1925, na cidade de Nova Iorque. Licenciou-se na City College de Nova Iorque em 1944 e doutorou-se em filosofia na Universidade de Harvard em 1949.

Sofrimento sem precedentes

Yuval Noah Harari
Tradução de Desidério Murcho
Libertação Animal, Hoje
de Peter Singer
Tradução de Desidério Murcho
Lisboa: Edições 70, 2024, 406 pp.

Os animais são as principais vítimas da história, e o tratamento dos animais domésticos nas quintas industriais é talvez o pior crime da história.

A filosofia da mente de Aristóteles

T. H. Irwin
Tradução de Desidério Murcho

A discussão da alma (psukhḗ) levada a cabo por Aristóteles na sua obra Sobre a Alma (De Anima) pertence à parte da sua filosofia da natureza que trata das coisas vivas. Aristóteles considera a alma um princípio de vida e pensa, portanto, que todas as coisas vivas, incluindo as plantas, têm alma.

A natureza que não vemos nem sentimos

Sobre a causalidade e a necessidade em Hume
Faustino Vaz

O respeito pela experiência é o aspecto essencial da teoria empirista do conhecimento. Todas as nossas tentativas de adquirir conhecimento substancial devem, por isso, ter uma justificação a posteriori. É fácil satisfazer esta exigência em muitos casos de conhecimento substancial.

Gottfried Wilhelm Leibniz

Robert C. Sleigh
Tradução de Desidério Murcho

Gottfried Wilhelm Leibniz (1646–1716) foi um filósofo racionalista alemão que contribuiu proficuamente para a geologia, a linguística, a historiografia, a matemática e a física, assim como a filosofia. Nasceu em Leipzig e morreu em Hanôver. Com formação em direito, ganhava a vida como conselheiro, diplomata, bibliotecário e historiador, sobretudo no tribunal de Hanôver.

Euclides

Bartel Leendert van der Waerden e Christian Marinus Taisbak
Tradução de Desidério Murcho

Euclides (fl. c. 300 a. C., Alexandria, Egipto) foi o mais proeminente matemático da Antiguidade greco-romana, conhecido sobretudo devido ao seu tratado sobre geometria, os Elementos.

Plotino

Eyjólfur Kjalar Emilsson
Tradução de Desidério Murcho

Plotino foi o fundador do neoplatonismo, o movimento filosófico dominante no mundo greco-romano da Antiguidade tardia, e o pensador mais significativo desse movimento. Diz-se por vezes que foi o último grande filósofo pagão. Os seus escritos, as chamadas Enéadas, foram integralmente preservados.

Platonismo

M. J. Inwood
Tradução de Desidério Murcho

O termo “platonismo” refere-se 1) às doutrinas de Platão; ou 2) a uma doutrina central de Platão, especialmente a teoria das Formas, ou Ideias, ou uma doutrina que com ela tenha alguma semelhança relevante, como a perspectiva (que contrasta com o “construtivismo”) de que as entidades lógicas e/ou matemáticas subsistem independentemente tanto do mundo empírico como do pensamento humano (Frege); ou 3) à tradição de pensadores que declaravam fidelidade a Platão, independentemente de as suas doutrinas serem de facto de Platão.

Demócrito

Daniel W. Graham
Tradução de Desidério Murcho

Demócrito (c. 460–370 a. C.) foi um filósofo pré-socrático grego. Nasceu em Abdera, na Trácia. Partindo de Leucipo e do seu atomismo, desenvolveu a teoria atomista no Pequeno Sistema do Mundo e em vários outros trabalhos.

História recente da metafísica

Michael J. Loux
Tradução de Desidério Murcho

Nos anos que precederam a segunda guerra mundial, e que lhe sucederam, era comum na tradição analítica uma atitude decididamente negativa quanto à metafísica. Antes da guerra, os positivistas lógicos invocaram o seu critério empirista de significado para concluir que, tomadas ao pé da letra como teses sobre o mundo extralinguístico, as afirmações metafísicas eram literalmente destituídas de significado.

Gottlob Frege

Anthony Kenny
Tradução de Desidério Murcho

Gottlob Frege (1848–1925) foi o fundador da lógica matemática moderna. Como lógico e filósofo da lógica está a par de Aristóteles; como filósofo da matemática não teve igual em toda a história da área.

Arístipo contra a felicidade

T. H. Irwin
Tradução de Desidério Murcho

Muitos moralistas gregos são eudemonistas; pressupõem que a felicidade (eudaimonia) é o fim último da acção racional humana. Sócrates, Platão, Aristóteles e a maior parte dos seus sucessores tratam este pressuposto como a base da sua argumentação ética. Mas nem todos os moralistas gregos concordam.

Os animais também pensam

Kristin Andrews
Tradução de L. H. Marques Segundo

Feche os olhos e pegue num objeto à sua frente. Abra-os agora e tente identificar qual foi o objeto em que pegou. Fácil, não? Para adultos humanos a transferência perceptual da modalidade visual para a tátil é natural. E é também fácil para bebês humanos, que já com apenas um mês de vida conseguem selecionar a imagem de uma chupeta depois de a terem chupado às cegas.

Verdade

Keith Simmons
Tradução de Desidério Murcho

As teorias da verdade investigam a verdade como propriedade das nossas ideias e do nosso discurso. Atribuímos a verdade e a falsidade a uma imensa diversidade de denominados portadores de verdade: itens linguísticos (frases, elocuções, afirmações e asserções), itens abstractos (proposições) e itens mentais (juízos e crenças). Qual é a propriedade que estamos atribuindo quando dizemos que um portador de verdade é verdadeiro?

Pitagorismo

Holger Thesleff
Tradução de Desidério Murcho

O pitagorismo foi uma escola filosófica e uma comunidade religiosa que se pensa ter sido fundada por Pitágoras de Samos, que se estabeleceu em Crotona, no sul de Itália, por volta de 525 a. C.

Verdade

Desidério Murcho

Conversamos sobre afectos, realidades, crenças, pensamentos, medos, desejos, memórias, futuros e tudo o mais. Sem a verdade, toda a conversa seria uma mera manifestação de subjectividades solipsistas e imunes ao erro, discursos paralelos sem triangulação possível entre si e a realidade.

História da metafísica

Roger Hancock
Tradução de Desidério Murcho

A palavra metafísica deriva do grego meta ta physika (literalmente, “depois das coisas da natureza”), uma expressão usada por comentadores tanto do período helenístico como de períodos posteriores para referir um grupo de textos originalmente sem título da autoria de Aristóteles a que ainda chamamos Metafísica.

Gottfried Wilhelm Leibniz

Anthony Kenny
Tradução de Rui Cabral

Tanto Malebranche como Espinosa foram influências importantes no pensamento de Gottfried Wilhelm Leibniz (1646–1716). Filho de um professor de filosofia da Universidade de Leipzig, Leibniz nasceu em 1646. Começou a ler metafísica na juventude e, por volta dos treze anos, familiarizou-se com os escritos dos escolásticos, relativamente a quem se manteve muito mais solidário do que a maioria dos seus contemporâneos.

Alguém (ou algo) pensa por nós?

José Costa Júnior
What is Philosophy For?
de Mary Midgley
Londres: Bloomsbury, 2018

Partindo do pressuposto de que você viva num local abastecido por água e que esteja equipado por processos de esgotamento sanitário, considere por um momento o complexo sistema de encanamentos que faz com que esse sistema funcione. São muitos tubos e conexões, alguns mais recentes e outros mais antigos. Alguns passaram por consertos e outros continuam com vazamentos, também maiores ou menores, que demandam reparos urgentes ou nem tanto.

Em defesa de P. G. Wodehouse

George Orwell
Tradução de Aluízio Couto

Quando os alemães fizeram seu rápido avanço pela Bélgica no começo do verão de 1940, capturaram, entre outras coisas, Mr. P. G. Wodehouse, que, durante toda a parte inicial da guerra, tinha vivido em sua casa de campo em Le Touquet e até ao último momento parece não ter percebido que estava em perigo. Enquanto era levado para o cativeiro, terá comentado que “depois disto, talvez escreva um livro sério”.

Criacionismo

Elliott Sober
Tradução de L. H. Marques Segundo

Para entender a história de uma ideia temos de evitar introduzir no passado o nosso entendimento presente. É um erro supor que uma ideia que agora consideramos inaceitável nunca tenha sido parte de uma ciência genuína.

Quine e as modalidades aléticas

Dagfinn Føllesdal
Tradução de Desidério Murcho

O cepticismo de Quine com respeito às perspectivas tradicionais do significado andava de mãos dadas com o seu cepticismo com respeito às modalidades. Na peugada de Carnap e de C. I. Lewis, Quine considerava que as noções modais estavam intimamente ligadas à noção de significado.

Daniel C. Dennett

Andrew Brook
Tradução de Desidério Murcho

Daniel Clement Dennett (1942–2024) obteve o seu primeiro grau académico em Harvard onde, como conta em Brainchildren (1998), resistiu vigorosamente ao mais influente filósofo americano do século XX: Williard van Orman Quine.

Roderick Chisholm

Richard Foley
Tradução de Desidério Murcho

Roderick Chisholm (1916–1999) foi um filósofo americano do século XX que deu importantes contributos em quase todas as áreas da filosofia, mas sobretudo em epistemologia e metafísica.

Máquinas que pensam?

Paul T. Sagal
Tradução de Desidério Murcho
Stu acabou de chegar, depois de mais uma sessão do torneio de xadrez, onde perdeu, frente ao computador Fischkov III.

Stu: Detesto perder, especialmente com os computadores. Como podem eles pensar melhor do que eu se na realidade nem sequer podem pensar?

Phil: Tens assim tanta certeza que não podem pensar? Talvez existam mais coisas que podem pensar do que pensas.

Cirenaísmo

Harry A. Ide
Tradução de Desidério Murcho

Os cirenaicos constituem uma escola de filosofia clássica grega que começou pouco depois de Sócrates e persistiu ao longo de vários séculos. É conhecida sobretudo pelo seu hedonismo.

Por que funciona o teste da estrela?

Harry J. Gensler
Tradução de Rodrigo Canal

A lógica silogística estuda argumentos cuja validade dependem de “todo”, “nenhum”, “alguns” e noções semelhantes. Ao simbolizar esses argumentos, usamos letras maiúsculas para categorias gerais (como “lógico”) e letras minúsculas para indivíduos específicos (como “Gensler”). Também usamos estas cinco palavras: “todos”, “nenhum”, “alguns”, “é” e “não é”.

Filosofia antiga da linguagem

Christopher Shields
Tradução de Desidério Murcho

O mais antigo interesse pela linguagem durante o período grego antigo era em grande medida instrumental: supostos factos sobre a linguagem e as suas características eram postos ao serviço da argumentação filosófica. Talvez inevitavelmente, esta actividade deu lugar à análise da linguagem em si.

Alimentem as pessoas e não a pecuária industrial

Peter Singer
Tradução de José Oliveira

Não há qualquer desculpa para que a Rússia, ao levar a cabo a sua guerra de agressão contra a Ucrânia, tenha como alvo as exportações de cereais desse país, sabendo que isso fará subir os preços dos cereais e fará aumentar a fome em populações de países distantes do conflito. Por outro lado, o mundo já produz cereais em quantidade mais do que suficiente para evitar a insegurança alimentar.

Determinismo e liberdade na acção humana

Álvaro Nunes

A liberdade é uma das crenças mais básicas e fundamentais dos seres humanos. Estamos convencidos de que sempre que decidimos ou escolhemos fazer uma coisa em vez de outra, quer seja a propósito de um assunto importante ou de algo completamente trivial, essa decisão ou escolha depende inteiramente de nós.

Teremos realmente livre-arbítrio?

Theodore Sider
Tradução de Vítor Guerreiro

Suponha o leitor que o raptam e o obrigam a cometer uma série de crimes terríveis. O raptor fá-lo disparar sobre a primeira vítima, forçando-o a premir o gatilho de uma arma, hipnotiza-o para que envenene uma segunda e depois empurra-o de um avião fazendo-o esmagar uma terceira. Milagrosamente, o leitor sobrevive à queda. A situação deixa-o atordoado, aliviado por ter chegado ao fim da sua dolorosa experiência. Mas então, para sua surpresa, é detido pela polícia, que o algema e acusa de homicídio.

A Náusea, de Jean-Paul Sartre

Uma leitura
Paulo Ruas

A Náusea foi publicado pela primeira vez em 1938, nas Éditions Gallimard, num momento em que o autor ainda era um desconhecido. Na opinião de críticos e admiradores, o livro de Sartre é um clássico da literatura do século XX. A sua publicação foi, no entanto, rejeitada num primeiro momento: só depois da intervenção de Gaston Gallimard, que leu a obra com entusiasmo, viria a ser aceite.

Aqueles que abandonam Omelas

Ursula Le Guin
Tradução de Desidério Murcho

Com um clamor de sinos que fez as andorinhas elevarem-se nos ares, o Festival de Verão chegou a Omelas, a cidade costeira de torres brilhantes. No porto, os aprestos dos barcos resplandeciam com bandeiras. Nas ruas, deslocavam-se procissões, entre casas de telhados vermelhos e paredes pintadas, entre velhos jardins cheios de musgo e à sombra de avenidas de árvores, para lá dos grandes parques e dos edifícios públicos.

Epistemologia confiabilista

Alvin Goldman e Bob Beddor
Tradução de L. H. Marques Segundo

Um dos principais objetivos dos epistemólogos é oferecer uma abordagem substancial e explicativa das condições nas quais uma crença tem algum status epistêmico desejável (tipicamente, justificação e conhecimento). Do ponto de vista confiabilista, qualquer teoria epistemológica adequada terá de levar em conta a confiabilidade do processo responsável pela crença ou, de maneira mais geral, considerações acerca da verocondutibilidade.

A lógica de Frege

Anthony Kenny
Tradução de Fernando Martinho

O acontecimento mais importante na história da filosofia do século XIX foi a invenção da lógica matemática. Não se tratou apenas de fundar de novo a própria ciência da lógica; foi algo que teve igualmente consequências importantes para a filosofia da matemática, para a filosofia da linguagem e, em última análise, para a compreensão que os filósofos têm da natureza da própria filosofia.

A verdadeira tragédia do aborto

Peter Singer
Tradução de Desidério Murcho

Em 2018, uma semana apenas depois de o senado argentino ter recusado a descriminalização do aborto nas primeiras catorze semanas de gravidez, uma mulher de trinta e quatro anos morreu em resultado de tentar interromper a sua própria gravidez.

O que me fez filosofar?

Colin McGinn
Tradução de Célia Teixeira

Nasci em 1950, cinco anos depois do fim da segunda guerra mundial, em West Hartlepool, no distrito de Durham, numa pequena cidade mineira no nordeste da Inglaterra. O hospital em que nasci era um albergue convertido, ou, como diríamos hoje em dia, um asilo para pessoas sem abrigo. A minha mãe tinha vinte anos, o meu pai vinte e seis, e eu era o primeiro filho.

A liberdade em Mill

Jonathan Wolf
Tradução de Maria de Fátima Carmo

Uma vez instaurada a democracia, que trabalho resta ao filósofo político? Numa perspectiva optimista, mal temos um processo democrático de tomada de decisões, o trabalho fundamental do filósofo político chegou ao fim. Todas as decisões podem agora ser deixadas ao funcionamento justo da máquina eleitoral. Infelizmente, mesmo sendo a democracia o melhor sistema que podemos conceber, não é solução para tudo. E Mill afirma que tem os seus perigos próprios: a ameaça da ditadura da maioria.

George Orwell

Mark Satta
Tradução de L. H. Marques Segundo

Eric Arthur Blair (1903–1950), mais conhecido pelo pseudônimo George Orwell, foi um ensaísta, jornalista e romancista britânico. Orwell é bastante famoso por suas obras de ficção distópica Animal Farm e 1984, muito embora grande parte de seus outros livros e ensaios tenha também alcançado popularidade.

As Limitações do Comunismo

 


As Limitações do Comunismo


Um correspondente do seu jornal da semana passada, ao escrever em defesa do que ele chama de “visões associativas”, querendo dizer com isso, suponho, a organização da indústria com base no princípio comunista, ocupa-se do combate contra pessoas que, diz ele, criticam o comunismo porque “a harmonia e a competência que dele provavelmente resultariam” serão supostamente “tão extremas que se tem pavor de um excesso de satisfação”; e ele atribui essa posição absurda a “uma obra recente” chamada Princípios de Economia Política,2 a qual, segundo afirma, “antecipou a inanidade e a monotonia que deverão seguir-se quando o incentivo das carências animais tiver sido conquistado e removido”. 


O seu correspondente entendeu mal o argumento de Economia Política. Não se encontra aí a noção de que “as torturas da fome” são necessárias para impedir que a vida se torne inane e monótona. A alegação está tão longe da verdade que, pelo contrário, a labuta a que a fome, e o medo da fome, condenam a grande massa da humanidade é a causa principal que torna as suas vidas inanes e monótonas. Se o comunismo, ou que é geralmente chamado por este termo, faria da vida uma rotina insípida, não seria dar a todos uma vida confortável. 


Quando os ricos estão ennuyés,3 não é por estarem “acima do medo das privações”; é em geral por não estarem “acima do medo” das opiniões dos outros. Não cultivam nem seguem opiniões, preferências ou gostos próprios, nem vivem senão da maneira prescrita pelo mundo para as pessoas da sua classe. As suas vidas são inanes e monótonas porque (em suma) não são livres, porque embora sejam capazes de viver como quiserem, os seus espíritos vergam-se a um jugo externo. Ora, esta é a servidão que temo nas comunidades cooperativas. 


Temo que o jugo do conformismo se tornaria mais pesado em vez de mais leve; que as pessoas se sentiriam obrigadas a viver para agradar aos outros, e não a si próprias; que as suas vidas ficariam subjugadas a regras, as mesmas para todos, prescritas pela maioria; e que não haveria saída, nenhuma independência de ação ao dispor de pessoa alguma, visto que todos têm de ser membros de alguma comunidade. É isso que, como se alega na Economia Política, tornaria monótona a vida; não o fim das privações, que é um bem em todos os sentidos da palavra, e que poderia ser assegurado a todas as pessoas que nascem, sem as obrigar a fundir tanto a sua existência distinta como a sua existência enquanto trabalhadores, numa comunidade. 


A meu ver, nenhuma ordem social pode ser desejável a menos que se funde na máxima de que nenhum homem ou mulher deve satisfações a outros indivíduos por qualquer conduta que não lesione ou prejudique os outros.4

Notas do tradutor

  1. Jornal inglês em que Mill respondeu por meio desta carta a um artigo publicado em 27 de Julho por um certo George Jacob Holyoake. Valemo-nos do Volume XXV, pp. 98–99, de The Collected Works of John Stuart Mill, disponível no site do Liberty Fund. ↩︎
  2. Influente tratado sobre a economia política publicado por John Stuart Mill em 1848. ↩︎
  3. Em francês no original: “entediados”. ↩︎
  4. Mill antecipa aqui de maneira extremamente sumária o que viria a ser conhecido como “Princípio do Dano”, que Sobre a Liberdade (1859) viria a tornar célebre. ↩︎

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